quarta-feira, 23 de julho de 2008

Instruções para subir uma escada
(Julio Cortázar)

Ninguém terá deixado de observar que frequentemente o chão se dobra de tal maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e logo a parte seguinte se coloca paralela a esse plano, para dar passagem a uma nova perpendicular, comportamento que se repete em espiral ou em linha quebrada até alturas extremamente variáveis. Abaixando-se e pondo a mão esquerda numa das partes verticais, e a direita na horizontal correspondente, fica-se na posse momentânea de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como se vê, por dois elementos, situa-se um pouco mais acima e mais adiante do anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais bonitas ou pitorescas, mas incapazes de transportar as pessoas do térreo ao primeiro andar.
As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado tornam-se particularmente incômodas. A atitude natural consiste em manter-se em pé, os braços dependurados sem esforço, a cabeça erguida, embora não tanto que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se está pisando, a respiração lenta e regular. Para subir uma escada começa-se por levantar aquela parte do corpo situada em baixo à direita, quase sempre envolvida em couro ou camurça e que salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau. Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé já mencionado), e levando-a à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o que neste descansará o pé, e no primeiro descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé. )
Chegando dessa maneira ao segundo degrau, será suficiente repetir alternadamente os movimentos até chegar ao fim da escada. Pode-se sair dela com facilidade, com um ligeiro golpe de calcanhar que a fixa em seu lugar, do qual não se moverá até o momento da descida.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Para onde nos levam as escadas?

Meu limão meu limoeiro...


CUIDADO COM A LEI AZEREDO

Tramita no Senado brasileiro um projeto de lei que obriga a identificação dos usuários da internet antes de iniciarem qualquer operação que envolva interatividade, como: envio de e-mails, criação de blogs, captura de arquivos (baixar imagens, músicas, vídeos), conversas em salas de bate-papo, etc. Todo internauta ficará obrigado a fornecer dados pessoais como nome, endereço, c.p.f., r.g. e telefone, aos provedores, para que, após a confirmação da veracidade dos dados, o usuário tenha acesso à rede. Será como abrir um crediário numa loja.

O projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo (PSDB - MG) visa à identificação e punição de criminosos que se utilizam da internet para a praticarem ilicitudes, tais como pedofilia, estelionato, falsidade ideológica, entre outros. Porém, estes crimes não passaram a existir depois do advento da rede mundial de computadores e não é uma medida como esta que fará com que os contraventores sejam autuados e apenados. Fora de internet estes crimes continuarão a existir.

No caso de tal projeto virar lei várias atividades serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. De acordo com o mesmo, passará a ser considerado crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida". Ficaremos restringidos a nulidade de ação na rede. Acessar um site, qualquer que seja, seria considerado crime porque vai gerar uma cópia sem autorização do proprietário na memória temporária do computador (cookies).

No Brasil, a quebra de sigilo bancário ou telefônico só pode ocorrer com autorização judicial. Se tal lei entrar em vigor os provedores poderão denunciar seus usuários fornecendo todos os acessos efetuados pelo suposto infrator, violando o princípio constitucional da privacidade. E no caso de uma denúncia equivocada, o governo irá prender o responsável pela denunciação caluniosa?

Não podemos deixar que esse “terrorismo virtual” ou essa “liberdade vigiada on line” venha a fazer parte dos nossos dias. A internet é o maior repositório de informações de todo o mundo e estão querendo dela nos privar, afinal, um povo ignorante é mais fácil de ser governado. Como consumidores e fornecedores de cultura, queremos registrar aqui o nosso repúdio e a nossa indignação para com tal insensatez. Estamos de olhos e ouvidos abertos.

Na brevidade de um instatnte
Passa-se do prazer à dor
Pra logo em seguida
Ir-se do ódio ao amor
Mas no jardim brotou a flor
Que exalou o melhor olor
E depois do sol se por
Ainda vai restar o ardor
Daquele momento incolor
Que soube se sobrepor
Embriagado pelo torpor
Do ato de compor.

(Clayton Souza)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A CAÇA

Mulher gato
Fareja rastros na rede
Homem rato está on-line

sexta-feira, 11 de julho de 2008

HERANÇA

O TEU ESCÁRNIO GEROU O MEU DOLO
E ASSIM SEGUI.
ZOMBANDO DA SORTE,
DESDENHANDO ATÉ DE MIM MESMO.
GUIEI-ME NOS TEUS PASSOS,
TRILHEI O TEU CAMINHO.
A ÚNICA BAGAGEM QUE LEVEI
FOI O EXEMPLO DO TEU LEGADO.
HOJE,
AO VER O SARCASMO NO ESPELHO,
SINTO-ME VERDADEIRAMENTE TEU HERDEIRO.
E BRADO INDIFERENTE:
SOU UM POLÍTICO BRASILEIRO.

(Zé)

Embaixo jaz o caos


quinta-feira, 10 de julho de 2008

girtos passados perdidos na noite
ficam flutuando no ar...
posso ouví-los nitidamente
com seus efeitos contundentes
gelando meu corpo,
petrificando minha consciência.
esperança suja, mal lavada
com a água do remorso,
já não mais ecoa
e por não poder desligar os ouvidos
vivo na noite perdido
afundando cada vez mais
aos gritos.

(Clayton Souza)

quarta-feira, 9 de julho de 2008


Descalce-se

MADAME

Maus saltos necessários
E altos
Comprimem meus pé(n)samentos

terça-feira, 8 de julho de 2008

Para alimentar o ego
Não há
Frutas
E frios.

Para alimentar o eco

Palavras
E paredes.
(Juliano Holanda)

Zé, você pode terminar pra mim.


GRITOS PASSADOS PERDIDOS NA NOITE
FICAM FLUTUANDO NO AR...
POSSO OUVI-LOS NITIDAMENTE

Sobre morcegos, plágios e idéias

Torres vazias e morcegos
Portas abertas e exus
Sinos cantando e tristeza
Cadeados e ferrugem...

Evolução indesejada
Viagem incerta...
Nave sombria...
Caminho em direção a ela, sorrio e pergunto: chegou?
(Mery Lemos) outubro de 2005

...sobre morcegos e plágios

Decerto que havia
Do jeito que fosse
Morcegos na torre
Gritando seus dedos
Demônios e medos
De um jeito tão doce
E almas amenas
Perfumes em vida
De certo tesouros
Tesouras descrentes
De fio duvidoso
De altas antenas
No mar ruidoso
De alvenarias

Decerto que havia
Tijolo sobre tijolo
Telhados e arcebispos
Abençoando e excomungando
Todos os pontos cardeais.
(Juliano Holanda)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

PREdifícil

Não me importo se estamos atrasados 50 anos em relação a Tóquio, quem define atraso ou vanguarda? Quem cria escolas e asseclas?

Letrados? Acadêmicos? que de tanto ler e não sentir, misturam-se às pálidas folhas de seus livros.

P.H. Quem?
Quem perguntou?
Degustemo-nos!

Lambuzemo-nos em idéias, suor, cachaça...
e quem sabe no suspiro pequeno dos dias, as respostas.

Mery Lemos

Apresento a Ação

Diz a lenda que para se entrar na mata sem levar uma surra da comadre fulorzinha tem-se que agradá-la com presentes. As oferendas, no entanto são as mais variadas possíveis e entre elas, aguardente, fumo-de-rolo e pimenta. Se formos observar o peji ou mesmo um despacho desses que amanhecem nas encruzilhadas, veremos uma variedade de coisas que são orferecidas ao "Santo" para que as graças desejadas sejam alcançadas.

A lenda também diz que é possível tirar leite de pedra ou que alguns alquimistas conseguiriam encontrar a pedra filosofal, com a qual transformavam qualquer minério em ouro.

Assim, o livro "Poesia a quem interessar Prosa", nos mostra como mesclar muita poesia existencialista, Haikai´s e versos decassílabos num ritmo que inspira melodiosas notas musicais ainda inexistentes.

O bom-bocado abocanhado em uma só mordida é assim recomendado para quem quiser se alimentar de vários nutrientes exóticos, para quem quiser experimentar sabores diferentes que se complementam, enfim para quem quiser fugir do trivial.

Ester de Lemos, Juliano Holanda, Rômulo Alves, Mery Lemos, Clayton Souza, Patrícia Alves e Antônio Silva estão todos prosa e nos convidam para um novo e nutritivo banquete poético. Mas não abusemos da azeitona, diz a lenda.

Poeta FRANÇA

(Nosso saudoso amigo fazendo-nos as honras na apresentação do nosso livro: "Poesia a quem interessar Prosa" / 2007)